Universo Paralello 2017
- Bebel Vanderoost
- 13 de mar. de 2018
- 7 min de leitura
Atualizado: 15 de mar. de 2018
Desde meados de 2005 eu ouvia falar num festival em uma praia deserta na Bahia, com muito eletrônico, camping e gente roots. De lá pra cá, fui estupidamente recusando convites para ir, até que, em dezembro de 2017, finalmente decidi que teria essa experiência.
Mas afinal, o que é o Universo Paralello?
É um festival de música e arte que acontece de 2 em 2 anos na praia de Pratigi – BA. Essa pausa anual acontece pelo impacto ambiental que a festa causa. Na sua 14ª edição, ocorreu de 27/12 até 4/01, e levou 20 mil pessoas ao delírio!
Quanto custa ir para o Universo Paralello?
Já que comecei a ver como ir nos 45 do segundo tempo, acabou que a passagem aérea não estava nos preços mais convidativos. Mas vale frisar que ano novo na Bahia já é uma data concorrida por si só. Acabei pagando R$1100 Ribeirão Preto – Salvador, pela Latam.
Claro que esses valores vão depender da onde é seu voo de partida. Mas a gente pode pensar que a passagem sairá uns 800 reais, como preço básico.
Como ir de Salvador até Pratigi?
Chegando no aeroporto de Salvador (23h30 do dia 26/12) vi que estava tomado de gente tentando ir para o festival. Uma longa fila atravessava de fora a fora o saguão. Todos aguardavam o transporte da Brasil Oriente (a empresa mais famosa) para chegar em Pratigi. A Welcome to Bahia também oferece esse serviço.
Tome cuidado ao escolher uma empresa sem reputação (essas 2 que citei sei que são de confiança). Pesquise site e referências, pois muita gente já tomou balão no transfer. Vale explicar que existe uma diferença de tempo entre ir de ônibus ou van. De busão você levará pelo menos 1h30 a mais!
Valores: ida e volta sairam por R$250
Chegando no Universo Paralello
A coisa rola bem isolada de tudo mesmo. Ao chegar próximo a entrada do festival você para numa rotatória (o ponto limite onde o transfer vai te deixar). Por lá rolam algumas opções de comida e bebida (galões de água e coisas que não vendem no festival você pode encontrar por lá). Na festa é permitido entrar com água para consumo próprio e uma garrafa de espumante. Demais bebidas ou comida são proibidos, e você passa por uma revista na entrada (bem mal feita).
Para chegar até o UP, existe a opção de ir de Bug ou de pau de arara. As viagens de Bug saíam por R$10 cada vez utilizada, enquanto que o pau de arara cobrava uma taxa única de R$50. Eu como n00b que fui, achei que iria voltar até a rotatória várias vezes, e acabei pegando o pau de arara. Me arrependi, pois só usei 2 vezes. A coisa chama Universo Paralello não é à toa. Você é sugado pra uma outra dimensão. Eu por 7 dias esqueci completamente que existia um mundo além de lá!
Acampar ou Alugar uma casa?
É uma coisa que divide opinião de quem vai no UP é onde ficar. Não existe um consenso sobre o que é melhor. Tudo depende do seu modo de curtir a festa, o quão roots você pode ser, e o quanto consegue relevar pequenos confortos dessa vida.
Como todos sabem, o festival não tem parada. A música come solta por 24 horas, durante todos os dias. Como a festa tem 3 quilômetros de extensão da primeira pista até a última, dependendo de onde sua barraca estiver você vai ouvir um determinado palco. Algumas vezes, os palcos são desligados para manutenção, mas no geral, durante todo o tempo o festival tem som. Quem tem o sono leve e não gosta de barulho para dormir, pode enfrentar dificuldades com o camping. Além do mais, toda hora tem alguém passando pelas barracas, doidos correndo, gritando, etc. Só que, acredite em mim... Ao final de cada dia você estará tão cansado que o sono vem fácil.
O maior problema enfrentado por quem escolhe o camping, ao meu ver, é o astro rei gigante que vive na Bahia. Eu já conhecia a nossa estrela sol. Mas aquele que mora lá tem a potência de uns 3 sóis que existem nos demais locais da terra! Às 5:30 da manhã já é perceptível seu efeito e ele começa a te expulsar da barraca. Às 7 aquilo vira um forno e você aos poucos é defumado com requintes de crueldade. Às 8 horas da manhã, meu amigo, você olha pra cima e jura que já é meio dia.
Se você não faz a linha regradinha e deixa o tempo passar sem se preocupar com a vida, danou-se. Das 7h até umas 16h é impossível dormir naquele lugar. Nem a sombra dos mais lindos coqueiros me deixava esquecer a sensação térmica de 50 graus que fazia. Então se existisse a opção de uma casa, e se fosse pedir demais um ar condicionado, seria muito bem-vinda nesses momentos de desespero depois de uma noite virada.
Outro ponto que vale a descrição é a precariedade dos banheiros. Não espere nada muito higiênico. Eu que sou acostumada a acampar me incomodei demais com a água do banho, que vem do mangue e tem um cheiro horrível. E nem pensar em beber aquilo ou mesmo escovar os dentes. O piriri vem na certa!
Uma coisa que é bom ter em mente é que por lá não existe muita privacidade. Os banheiros são em containers abertos onde existem umas divisórias simples que deixam tudo à mostra, o que faz rolar vários nudes... Nos primeiros dias um tímido ou outro fica mais encanado, mas na finaleira geral já toma banho peladão... E posso falar? Achei um ótimo convite pra desmistificar o tabu que é a nudez. Afinal, ninguém veio ao mundo vestido!
Tirando a parte dos perrengues, acampar desperta sensações únicas. O clima de união que tive com os amigos que vieram comigo, e os vizinhos até então desconhecidos que foram se enturmando foi delicioso. Aquilo virou uma comunidade onde todo mundo se cuidava! Com certeza a interação que tivemos foi muito maior do que ficar em uma casa isolada. Você conhece a galera que está acampando perto, faz amizades nas longas filas do banheiro. Todo momento é um convite para uma boa prosa e ganhar uma nova amizade!
Os palcos do Universo Paralello
Eram 6 no total. Tirando o Main Floor, todos eram de frente ao mar, então para ir de um a outro o caminho mais agradável era pela praia. Por 3 km de um extremo a outro, levava bastante tempo para percorrer o festival inteiro. Além de que andar pela areia e debaixo de um sol forte é mais desgastante.
Main Stage
Um tencionado gigantesco de fora a fora formava uma mandala em tons predominantemente azuis. A arte estava linda. Na vista aérea, as duas tendas enormes formavam o símbolo do infinito. A área do palco, onde os Djs tocavam, era bem simples. Eu esperava um pouco mais de investimento na decoração. Mas é preciso ter em mente que diferente de festivais de eletrônico tradicionais como Tomorrowland, Ultra e afins, o foco lá não são fogos, luzes, efeitos e chuva de papel picado. A natureza é algo que reina, então a decoração ideal precisa respeita-la!
Up Club
O mais foda de todos. Um grande índio abrigava os Djs em seu topo, o que dava a impressão de estarem tocando em seu cérebro. O rosto do índio era esculpido em 3d e de noite recebia projeções que criavam expressões faciais. Isso deu pano pra manga em discussões divertidíssimas. De repente tinha o time que dizia que o índio mexia, e o outro time que negava isso. Eu mesma demorei a tomar uma posição, tudo estava muito confuso!
Palco Paralello
Era onde a bandas se apresentavam. A decoração estava simples, mas o destaque ficou para o bar que tinha fitas coloridas penduradas em sua volta. Formavam um desenho psicodélico e cada vez que o vento batia, parecia que uma grande onda se deslocava enquanto você buscava uma cerveja.
303
Onde rolava Psytrance, e de noite Dark. Goa Gil, no começo do festival, fez uma das suas performances infinitas de horas a fio.
Para relaxar, tinha o Chillout e o Palco Tortuga, que além de sons alternativos rolava um chopp artesanal, sendo único local do festival que servia. Motivou muita gente a passar as tardes por lá!
A música
Bom, vamos ao que interessa. Como todo festival, o motivo principal de passarmos por todo o processo é agradar os nossos ouvidos. Essa que vos escreve não é uma grande fã de trance, o ritmo que domina o festival. Então essa crítica eu não poderei fazer com muita profundidade. Das atrações que vi no palco principal, as que mais me chamaram a atenção foram Astrix, Logica (projeto do Alok com seu irmão Bhaskar), Vini Vici, Pixel e Vegas... De resto confesso que nem pisei muito por lá.
Uma nota é preciso fazer aqui, já que nem todo mundo sabe da história. Alok Petrillo é filho de Ekanta e Swarup, casal de Djs fundador do Universo Paralello. Ele pode hoje em dia até tocar em rodeio, mas desde menino é enraizado na música eletrônica. Sua performance ao lado do irmão gêmeo no projeto Logica deixa claro que nem só de hits comerciais vive o moço.
Melhor palco do UP
Pra mim onde o bicho pegou sem dúvida foi o Up Club. Com a curadoria de Alok, os fãs de Techno e afins estavam bem servidos. Algumas surpresas que eu adorei ouvir foram:
Cat Dealers que tocaram algo comercial e muito dançante. Me surpreendi com a atmosfera divertida que criaram, sem dúvidas ganharam uma nova fã.
Vivi Seixas a filha de Raul já merece respeito pela genética. Apesar de pouca gente prestigiando na hora que ela tocou, o set teve bom gosto.
A tríade Anna, Victor Ruiz e Renato Hatier dando aulinha de Techno fizeram o público levitar. Com destaque para a Anna, que a cada apresentação vem ainda mais mística, quase uma bruxa!
Boris Brejcha que sem dúvidas motivou muita gente a comprar o ingresso do UP não decepcionou e fez com que as primeiras horas de 2018 fossem inesquecíveis.
Bhaskar, Eli Iwasa, Gabe também arrancaram meus aplausos.
Palco Paralello
O palco onde rolavam as “bandas normais” estava com uma programação muito atrativa. A grande chatice de festival é que várias coisas boas se chocam nos horários, e temos que fazer escolhas. O show do Gabriel Pensador foi muito elogiado. Destaque para o momento emocionante: em “Cachimbo de paz”, o palco foi tomado por índios Pataxós clamando por justiça na causa indígena.
Mas pra mim a maior sensação foi ver o mestre Gustavo de Nikiti, vulgo Black Alien, retomar sua boa forma numa performance sensacional. Um dos melhores letristas do Brasil conciliou novos e antigos sucessos em um show que mostra que o Hip Hop brasileiro tem um representante foda! Babylon by Gus vive!
Considerações finais
O mais louco é que depois de conhecer tanta gente, acabei mesmo foi me conhecendo. Viver aqueles dias de utopia foi uma experiência mágica, intensa e cheia de imprevistos, que eu faria novamente com muito prazer! Falta muito para chegar 2019?

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